batalhas

Andar já foi difícil. Eu não me lembro bem, mas com certeza houve um tempo onde era a coisa mais difícil de todas, onde minhas perninhas exigiam de mim toda a minha força e coordenação motora para colocarem-se, uma após a outra no chão, um passo de cada vez. 

Comer já foi difícil, e disso eu lembro melhor. E me lembro como cada garfada era dentro de mim um soldado abatido. E não sabia se era um soldado mais perto se ganhar a guerra ou de perde-lá, pois era uma guerra civil, eu contra eu, então era uma vitória-derrota confusa e consciente três vezes por dia.

"Vai ser difícil", eu disse, mas nunca significou que eu não estivesse disposta a fazer. Porque quando ficasse difícil, eu sabia que ainda poderia sair para andar ou sair para comer, e assim, me afastar um pouco mais daquela cidade e observar aquela imagem petrificar, metalizar, diminuir, para no fim virar apenas mais uma estatueta, um troféu na estante de batalhas que eu já ganhei. Para que quando a próxima dificuldade viesse, eu pudesse olhar para ela e pensar "é, aquilo foi difícil, mas eu superei".

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