setembro
"e o mundo vai se expandindo, né minha filha?"
disse meu pai, pra mim, sentado no volante.
a luz do sol cobria o lado direito de seu rosto e refletia em mim como se sua pele fosse feita de espelho
o mundo espande.
passa a frequentar lugares que quando criança pareciam infequentaveis
não só por mim
mas por todos
o mundo se abre como um campo aberto.
as lojas deixam de ser só fechadas e ganham rostos, mesmo que eu não queira ou não goste
recheia a cidade de memórias, de forma que todo canto agora é perto de algum lugar, e todo lugar tem o perfume de alguém (demorou 16 anos pra isso)
aprende o caminho até a praça, até a sorveteria, vai a pé
e se vê pensando em morar fora da casa que jurou que nunca abandonaria (quando criança lembro de dizer que eu ia comprar outra casa para os meus pais e continuar morando na minha quando casasse; lá vou eu, embora, nem perto de casar)
e o mundo se abre como um livro de receitas
com receitas do mundo inteiro
talvez o único livro no mundo que eu não quero ler
não por ódio particular ao mundo
mas porque tenho medo
oh Deus, eu tô aterrorizada
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