nunca odiei nada
Olho para fotos antigas com uma frequência assustadora.
Não foi bem planejado: não sei se queria ser a garota nostálgica que sou. É uma sensação estranha de "naquela época era bom", mesmo agora estando bom também, e naquela época talvez nada fosse como as lentes tendenciosas da minha memória pintam agora. Agora é bom, mas é diferente. Eu queria aquele antigo bom. Agora é novo mas eu queria o antigo novo. A vida é mudança, mas ela parece errada, rejeito a mudança como o corpo que rejeita novos órgãos, novo sangue, mesmo que seja sangue bom, sangue O-. Mesmo que de certa forma isso me salve.
Quando penso sobre amor, percebo que nunca odiei ninguém. Seja no fato de eu nunca tirar suas fotos do meu quarto, seja no fato que sua foto de perfil ainda é uma foto que eu tirei (penso muito nisso também). Seja então no fato de que penso sobre você, ela, eles, como eu queria ser um tapete, como fico feliz de ser enganada, como me desumanizo, não falo isso em um sentido pejorativo. Como me basta ajudar. Como não tem problema algum se fere meus sentimentos quando te amo o suficiente. Sempre quando o assunto em pauta é esse me dizem que deveria me amar mais. Me pergunto se me amar mais é dar as costas.
Por que o amor próprio deveria me proteger da vontade de me doar? Quando naturalmente com contato humano, me abro como flor em perfeitas condições. No primeiro sorriso já há água, luz, terra, vitaminas, todo lugar é um bom lugar para florescer e todos os olhos me merecem. Gosto muito de falar o que ninguém fala, me sinto transgressora das leis universais. De onde surgiu o pensamento humano de que as pessoas deveriam fazer algo para nos merecer? Para ganhar nossa atenção ou respeito, como se seus pensamentos fossem vip e alguém precisasse te convencer de que é digno de te ouvir.
Não me vejo tão importante. Minha atenção é de quem quiser, minha ajuda é de quem pedir. Não sou fácil mas gosto de pensar em mim mesma como acessível.
Casada com a estética, as vezes traio.
Faço piadas entre amigos que quem gosta dos meus textos não gostaria de ouvir.
Faço coisas que minha mãe não gostaria de saber.
De certa forma me irrito com a minha imprevisibilidade;
Queria ser o que você espera de mim.
Acontece que se amar nem sempre é fazer o que o coração quer.
Mas é difícil separar amor por mim e amor pelos outros. Se permitir sentir é um amor próprio dos grandes, e eu me permito. Me permito me importar demais com meus amigos, me permito fazer os mesmos erros, quando criança lembro que sempre me arrependia de me abrir com minha mãe, mas passadas uma semana ou duas estava de volta no colo dela aos prantos. Cometo todos os meus erros de novo, como um pássaro que bate repetidas vezes a cabeça na janela, quando se trata de confiar. Preciso me expressar para viver. Preciso de pessoas para ter ar. Preciso ser vista e ver. Embora não me considere habilidosa com contato social, sem ele, eu morro.
O amor dos outros é amor pra mim. Me interesso pela forma que se interessam por mim. Não por não me conhecer, mas por me conhecer bastante e saber que sou plural. Conhecer gente é como um Halloween. Gostamos de nos fantasiar pois é divertido ver uma versão de si que você nunca viu. É o que sinto toda vez que conheço um novo alguém, me pergunto qual das faces de mim ela viu e curto os dias curtos até que algum dia ela me conte como me vê. As vezes não conta, e ai curto o manjar de não saber tudo.
Eu amo quase tudo.
Nesse mundo temos tabu com a palavra amor, parece atrelada a ideia de ter filhos com alguém. Parece errado falar que ama pessoas enquanto elas ainda não salvaram a sua vida. Acho que todos temos concepções diferentes de amor e eu amo tudo que me faz sentir mais viva. Parece estranho falar que amei um beijo de um estranho, mas naqueles segundos eu amei. Parece estranho falar que amo meus alunos pois criamos um significado muito muito importante para amor, quando em essência, para mim, é só aquilo que faz o coração acelerar. Quando sinto “que bom que isso está acontecendo” e a vontade de respirar fundo para prender o instante entre meus dedos, é amor. Dessa forma posso amar uma fatia de torta, posso amar um cheiro, um movimento, tudo que me faz amar mais a minha vida. Tudo que me faz gostar mais de mim
É mais fácil definir assim
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